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Entrevista com Pompeu Cristovão de Pina

Cultura é tudo aquilo que você ama!

“Ele tem 72 anos e traz consigo memórias de séculos anteriores. O advogado Pompeu Cristóvão de Pina é um dos descendentes da família portuguesa Braz de Pina, que chegou a Pirenópolis em 1780.

Eles vieram para o interior de Goiás fugindo da repressão política que afligia o Rio de Janeiro. Pirenópolis foi escolhida como novo destino dos Braz de Pina por já despontar em pleno século XVIII como um centro cultural, segundo Pompeu.

Vindos da Península Ibérica, os Braz de Pina trouxeram à cidade o gosto pela arte, amor que pode ser observado pelo que a família mantém: museu, teatro, uma escola e banda musicais.

Mas o envolvimento com a arte não se restringe aos prédios e objetos que a família preserva. Pompeu de Pina é responsável por peças seculares que recontam a história do município, como as obras de Antônio da Costa Nascimento, que devem ser lançadas em livro ainda neste mês.

Por que a sua família escolheu Pirenópolis?
Porque Pirenópolis é um centro cultural que desde o século XVII atraía gente do mundo todo.

O que havia em Pirenópolis naquela época para ser considerado um centro cultural?
Aqui era o ciclo do ouro, que durou pouco, pois era de aluvião. Havia apenas dois filões: Santo Antônio e Abade.

Joaquim Alves chegou aqui no início de 1800 com a intenção de ser padre. Ele começou a fazer um intercâmbio entre Pirenópolis, Cuiabá e Rio de Janeiro. Então, começou a trazer para o sertão a cultura, inclusive tendências que vinham da Europa. Tudo o que chegava na Côrte ele trazia.

Qual a principal característica da sua família?
Você reconhece um Pina pelos olhos, que não são pretos nem azuis, e pelo acentuado amor pela arte.

Todo Pina é músico, mexe com teatro, banda de música, enfim, envolve-se na política e tudo o mais. Na mesa de jantar da minha casa, todo dia nós discutimos cultura. É um brigando daqui, outro xingando dali, outro criticando acolá.

Qual é a arte mais apreciada pelo senhor?
O teatro. O teatro e a música, a pintura e a escultura. Tudo envolve o meu mundo cultural.

A história cultural de Pirenópolis está documentada?
Nós conseguimos achar um livro de Antônio da Costa Nascimento, que tinha mania de desenhar.

Ele era músico e também desenhista, representava a cidade através de seus traços.

Eu comprei este livro e vou publicar. Eu digo ao leitor que não falo nada sobre o livro, cada um deverá ler através dos traços o que ele, o grande artista, um dia quis descrever.

Muitas coisas referentes à cultura em Pirenópolis são propriedades particulares. O poder público não dá o devido valor à cultura?
Antigamente, não. O governo atual dá uma cobertura maior. O orçamento para a cultura é muito pequeno, não recebe ajuda nenhuma.

Um grande exemplo é o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A distribuição de verbas para ele é uma mixaria. Eu, por exemplo, tenho um museu particular e pago taxas altíssimas, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que é caríssimo.

O senhor comprou a casa que hoje é a sede do museu já com a intenção de preservar a história da sua família?
Sim, a minha intenção era guardar. A minha família estava sendo bombardeada. Com o advento de Brasília, muita gente de lá vinha para cá comprar obras para vender. E aquilo me irritava.

Ver tantas peças de arte bonitas que o dinheiro comprava tudo. E, aí, o que fiz?
Montei o museu. É o museu-revolta! Você vai lá e não encontra nenhuma legenda. Você que tem que procurar. Se você não sabe tem que indagar.

Eu tenho relacionadas todas as peças em arquivo, mas eu acho um absurdo você ir a um museu e ler o que está escrito. Se você pegar a etiqueta de uma obra e colocar em outra, ninguém nota.

O que é necessário para instigar o povo a gostar de cultura?
O povo se apaixonou pela televisão e pela internet. Todo mundo quer botar tudo na internet. O mundo virtual é um negócio sério. Ele é muito para a cultura, mas é muito para o outro lado. O pessoal começou a ser escravo da internet. Com isso, a cultura verdadeira desaparece. Você tem que ver o museu pessoalmente.

O que o senhor considera que seja cultura verdadeira?
Cultura verdadeira é aquilo que você percebe só com o cérebro, é o que você percebe também com a mão e o coração.

Visitar pela Internet a Catedral de Notre-Dame é uma sensação, mas visitar pessoalmente é outra sensação, mais verdadeira, sentir a presença de que todas as paredes são impregnadas pela cultura.

As fotografias não são verdadeiras. Os retratos não são verdadeiros. A casa, por exemplo, é nosso refúgio. As paredes estão cercadas de você. É ela que te dá conforto e segurança.

Em casa, você se sente dentro de você mesmo. E demora anos para você sentir as paredes impregnadas de você.

Museu e teatro em cidade histórica são coisas para turista ou são valorizados pelos cidadãos da própria cidade?
Deve ser valorizado por quem é daqui.

E é?
Sim, em parte, é. As famílias tradicionais mantêm a cultura, mas muitas famílias têm filhos com tatuagem e brinquinho, que já aderiram ao mundo moderno.

E devemos resistir ao mundo moderno?
Não, resistir, não. Você tem que vivê-lo. A cultura não é estática. Ela roda e você tem que acompanhar. Ela muda lentamente, é dinâmica, vai girando. Você tem que cultuar o passado, viver o presente e programar o futuro.

Enfim, para o senhor, o que é a cultura?
Cultura é tudo aquilo que você ama.

Pelos jornalistas: Carla Magalhães e João Neto