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Pirenópolis, berço de nascentes, recebe projeto piloto no Brasil de conservação dos recursos hídricos!

06/04/2015

Em meio a umas das maiores crises hídricas vividas pelo País nas últimas décadas, a cidade goiana de Pirenópolis, localizada a 140 quilômetros de Brasília, iniciou um processo de reflorestamento de mudas de plantas nativas do cerrado com o objetivo de recuperar 10 nascentes afluentes do Rio das Almas, principal responsável pelo abastecimento do município.

Apesar de ter apenas 25.000 habitantes, Pirenópolis atrai milhares de turistas anualmente por sua arquitetura colonial e por suas cachoeiras.

Ao todo serão plantadas 2.000 mudas ao redor das fontes. Pirenópolis está localizada em um região rica em nascentes. O morro dos Pirineus, ponto mais alto da cidade, é um divisor continental de duas bacias hidrográficas do Brasil – a bacia de Tocantins e a bacia Platina.

As águas desembocam em mais de 80 cachoeiras que atraem turistas de todas as partes do País. A quantidade de água é tão grande, que a Prefeitura da cidade não tem o cálculo exato de quantas nascentes existem na região.

O secretário de Meio Ambiente da cidade, Arthur Abreu, explica que a maioria das nascentes estão localizadas em propriedades rurais e que a especulação imobiliária nesses locais se tornou um desafio para a conservação das minas de água.

— Com essa coisa da valorização do mercado em Pirenópolis, os proprietários lotearam pequenas propriedades. Então, onde tinha um morador, hoje tem vinte moradores. Isso aumentou o consumo da água.

Outra ameaça constante às nascentes é o agronegócio. Muitos dos fazendeiros criam gado e a transformação do terreno em pasto atrelada à livre circulação dos animais pode acelerar o processo de degradação das minas de água que brotam da terra.

Por isso a iniciativa tem sofrido resistência de parte dos ruralistas da cidade. Abreu explica que a mudança de cenário obrigou as autoridades a endurecer a fiscalização nas áreas atingidas.

— A gente chega e conversa, se eles não resolverem a gente vai e impõe a multa, obrigando eles a fazerem a conservação.

No entanto, alguns proprietários procuraram a Secretaria de forma espontânea na tentativa de contribuir com o programa. 

Um dos mananciais que recebeu as mudas foi a nascente da Santa, a 40 km da cidade, no Parque Estadual dos Pirineus. Alunos de escolas públicas realizaram o plantio de 25 mudas ao redor do manancial. As águas da nascente da Santa desembocam em uma pequena cachoeira de água limpa e transparente a poucos metros do local.

Além do trabalho de conscientização das crianças, a prefeitura busca o apoio dos moradores. A cooperativa de catadores de lixo de Pirenópolis, a Catapiri, tem contribuído com o recolhimento de resíduos nas margens do Rio das Almas. O grupo é formado por 17 pessoas que separam o material que pode ser reciclado.

O presidente da Carapiri, Diomar de Camargo, conta que em média são separadas 20 toneladas de lixo por mês. Ele ressalta que pequenas atitudes cotidianas e mudanças simples de hábitos podem ajudar na preservação da natureza.

Uma parceria da Prefeitura de Pirenópolis com o programa Água Brasil, vai investir R$ 5,8 milhões em projetos de preservação do meio ambiente. Um galpão para a coleta de lixo será construído pelo custo total de R$ 3 milhões. O gerente-geral da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil, Rodrigo Nogueira, avalia que o empreendimento ajudará no trabalho da coleta do lixo.

Impacto econômico

Para o superintendente de Políticas Públicas da WWF Brasil, Jean-François Timmers, Pirenópolis está um passo à frente no cuidado com o meio ambiente. Timmers acredita que o envolvimento de diversos setores é fundamental para que haja mudança necessária para a preservação da natureza.

— A sensação de que Pirenópolis é importante, que é um exemplo para o País gera orgulho e gera cuidado. A gente acredita que o projeto é um vetor de cidadania e ele se apoia nas estruturas locais, tanto da prefeitura como das associações locais, como a de catadores e outros. Isso também fortalece a governança do meio ambiente por parte da população local.

Ele destaca que muitas vezes as autoridades só dão importância devida ao assunto quando os interesses financeiros se chocam com a necessidade de implementar meios sustentáveis de desenvolvimento. Timmers afirma que a ideia de que a sustentabilidade se opõe ao progresso econômico-social é ultrapassada e cobra mais engajamento do poder público.

— Esse pensamento é complemente ultrapassado e a gente vê a prova disso em São Paulo. Esperamos que não, mas se começar a ter racionamento de água e de energia em São Paulo a população vai para a rua, as indústrias vão começar a fechar as portas. Já tem empresas indo embora. Então o impacto econômico é muito significativo.

O sanitarista Manoel Inácio de Sá concorda. No entanto, o especialista diz que é “preciso dar as mãos” em prol da causa. Para ele, a situação atual ainda pode ser revertida com a participação de todos.

— A gente pode mudar isso na medida que você tem uma atuação permanente. Tem que estar atuando permanentemente nisso não só na fiscalização mas na mudança de cultura.

Fonte: R7