15-08-2016
Cine Pireneus, de 15 a 18 de Setembro de 2016.
Volta às raízes com os pés no futuro
*Sétima edição do festival aposta em projetos de recuperação de tradições visando à sustentabilidade
*Presença do chef português André Magalhães, premiado pela prestigiosa revista Wine como “Personalidade do Ano na Gastronomia” de Portugal
*Exibição de 24 títulos, entre curtas e longas-metragens, a grande maioria inédita no País
*Lançamento no Brasil do projeto “Esporão & A Comida Portuguesa a Gostar Dela Própria”, com a presença do realizador Tiago Pereira
*Degustação de vinhos e azeites portugueses, Jerez e produtos do cerrado brasileiro
*Oficina Cozinha da Reciclagem, com a chef Regina Tchelly, criadora do projeto Favela Orgânica
* Exposição ‘Natureza Móvel’, no foyer do Cine Pireneus, reúne 22 capas de discos de vinil
* Participação especial da produtora Silvia Canas de Costa, proprietária da Quinta da Lapa, referência vinícola em Portugal
O conceito do “quilômetro zero” (que propõe o consumo de alimentos que não tenham percorrido grandes distâncias até o consumidor final) e a tradição culinária permeiam grande parte das produções inseridas na programação do SLOW FILME – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA E ALIMENTAÇÃO, que chega à sétima edição em 2016. O evento, único em seu perfil no Brasil, acontecerá entre 15 e 18 de setembro, no Cine Pireneus, na cidade de Pirenópolis, em Goiás. Entrada franca, mediante a retirada de ingresso na bilheteria do cinema.
Ao longo de quatro dias, serão exibidos 24 títulos, entre curtas e longas-metragens, produzidos em diferentes países, como Espanha, Polônia, Portugal, Reino Unido, Suíça, Peru, Canadá, Japão e, é claro, Brasil, dentre vários outros. Em comum, projetos que recuperam tradições, adaptando-as para o mundo do século XXI ou apenas registrando-as. E reafirmam a importância de aprender com os antigos a respeitar as estações do ano e sua oferta de alimentos, a enxergar a produção regional como fonte generosa de ingredientes para a gastronomia, e a valorizar o conhecimento adquirido como aprendizado para tornar melhor o planeta nos dias atuais.
O 7º SLOW FILME é uma realização da Objeto Sim Projetos Culturais e do Instituto Pireneus, com curadoria do cineasta e crítico Sérgio Moriconi. Apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, Governo de Goiás, Prefeitura de Pirenópolis, Secretaria de Cultura de Pirenópolis e Secretaria de Turismo de Pirenópolis. Conta, ainda, com as parcerias do Slow Food Pirenópolis, dos Laboratórios Sabin, das embaixadas da Espanha, França e Suíça e do Instituto Cultural da Dinamarca.
O FESTIVAL
Vai ser difícil desgrudar os olhos das imagens exibidas em ficções e documentários que integram a grade de programação do SLOW FILME em 2016. Fotografias deslumbrantes caracterizam produções como Noma – Minha Tempestade Perfeita, do Reino Unido, sobre o chef René Redzepi, um dos mais consagrados da atualidade e seu restaurante Noma, que já foi eleito o número 1 do mundo. Também Jerez, o mistério do “Palo Cortado”, da Espanha, sobre o vinho que é objeto de culto no país; o holandês Retrato de um Jardim, sobre um mestre podador de 85 anos e seus ensinamentos; e Pequena Floresta, do Japão, que mostra a vida de uma jovem cozinheira e sua opção por utilizar os alimentos disponíveis em sua região, durante o outono.
Belas imagens e conceitos filosóficos distinguem as produções integrantes do projeto norte-americano The Perennial Plate, que será lançado no Brasil durante o festival. O Prato Perene – Aventuras no mundo da comida sustentável é uma premiada série documental, realizada pelo chef e ativista Daniel Klein e pela cineasta Mirra Belas. Os dois viajam pelo mundo, registrando histórias, costumes e personagens ligados ao princípio da sustentabilidade e do comer bem.
Em 2016, SLOW FILME também fará o lançamento, no Brasil, de dois projetos premiados de Portugal. Trata-se de Esporão & A Comida Portuguesa a Gostar Dela Própria e de A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, criadas pelo realizador Tiago Pereira, que estará presente ao festival e conversará com a plateia. Serão exibidos episódios da série musical e episódios destinados à culinária, contando também com a presença do chef português André Magalhães, eleito “Personalidade do Ano na Gastronomia” de Portugal, pela revista Wine, e um dos três maiores de seu país, pelo prêmio Mesa Marcada. André Magalhães participa do programa de Tiago Pereira, não só como chef convidado, mas como consultor, e conversará com o público sobre a ideia do projeto, que além de registrar a preparação ancestral de alimentos, convida chefs contemporâneos para fazerem uma espécie de releitura da receita antiga, preparando-a diante da câmera.
O Brasil estará representado em filmes como Apart Horta, uma ficção-documentário que fala da possibilidade de tornar saudável o alimento cotidiano das grandes cidades, Guardiãs do Queijo Coalho, curta que registra a produção do famoso queijo por sertanejas do interior de Sergipe, e Comer o quê?, que vasculha os hábitos alimentares dos brasileiros, contando com depoimentos de nomes como Alex Atala, Bela Gil e Marcos Palmeira. O diretor de Comer o quê?, Leonardo Brant, conversará sobre o trabalho com a plateia.
PALESTRAS E DEGUSTAÇÕES
Biscoitos, sucos e frutos do cerrado, Jerez, azeite e vinho portugueses produzidos pela empresa Esporão darão sabor às noites de sexta e sábado do SLOW FILME, acompanhados da conversa com produtores, realizadores e chefs. Os encontros e degustações acontecem no pequeno teatro de arena, na área que liga o Cinema ao Teatro Pireneus.
Na sexta-feira, 16 de setembro, após exibição do longa-metragem Comer o quê?, haverá uma conversa com o diretor do documentário, Leonardo Brant, seguida de um descontraído encontro com a chef Regina Tchelly, criadora do projeto Favela Orgânica. Concebida em 2011, nas comunidades cariocas de Babilônia e Chapéu Mangueira, da zona sul do Rio de Janeiro, a Favela Orgânica é uma iniciativa que visa ensinar a população a aproveitar os alimentos em sua totalidade. Hoje, as oficinas do projeto já circularam pelo Brasil e por alguns países como França, Itália e Uruguai. Regina Tchelly é paraibana, ex-empregada doméstica, e decidiu aproveitar sua experiência em frequentar as xepas das feiras livres para ajudar as famílias das comunidades mais pobres do país a enriquecerem a alimentação, com pequenas mudanças de hábitos. Atualmente, é chef da Rede Terra Madre e possui o buffet Favela Orgânica.
Logo depois da conversa com Regina Tchelly (que também vai ministrar oficina durante o SLOW FILME, na tarde de quinta e na manhã de sexta-feira), será servido um coquetel de salgados, biscoitos e sucos especialmente preparados pelas cooperativas da Central do Cerrado. A central reúne 35 organizações comunitárias de sete estados brasileiros (MA, TO, PA, MG, MS, MT e GO) que desenvolvem atividades produtivas a partir do uso sustentável da biodiversidade do cerrado. No local, também será possível adquirir mais informações sobre a Central e alguns produtos que ela representa.
No sábado, o foco ficará sobre a Península Ibérica. Às 18h, pouco antes da projeção de Jerez – o mistério do Palo Cortado, a plateia poderá degustar o autêntico jerez, servido dentro do Cine Pireneus, para que o espectador se sinta mais próximo ao tema que será tratado na tela. Considerado um cult da Espanha, o vinho tem sabor único e é tido como um tesouro nacional.
Pouco depois, às 21h, acontecerá o lançamento, no Brasil, do projeto Esporão & A Comida Portuguesa a Gostar dela Própria, contando com a presença do realizador Tiago Pereira e do chef André Magalhães, e a exibição de episódios da série. O projeto descende de outra série, A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, criada pelo diretor Tiago Pereira para registrar manifestações musicais portuguesas que sobrevivem apenas nos pequenos povoados do país. A iniciativa deu tão certo, que gerou a nova série, contando com o patrocínio da empresa Esporão.
Tiago Pereira e André Magalhães explicarão como funciona o projeto Esporão & A Comida Portuguesa a Gostar dela Própria, responsável por recuperar receitas e costumes alimentares de várias regiões de Portugal, atualizando-os a partir de convites a consagrados chefs portugueses contemporâneos para que façam releituras dos antigos pratos.
Também estará no local a produtora Sílvia Canas da Costa, gestora da vinícola Quinta da Lapa, uma das mais celebradas de Portugal. Ela promete falar um pouco da produção da quinta, fundada por Dom Lourenço de Almeida, em 1733, depois de ter sido governador de Pernambuco e de Minas Gerais (inclusive, foi Dom Lourenço quem transferiu a capital de MG para Ouro Preto). Em seguida, o público poderá degustar vinhos e azeites produzidos pela empresa Esporão, uma das mais importantes do país, e patrocinadora do projeto.
André Magalhães é o taberneiro-mor da Taberna da Rua das Flores, celebrado restaurante de Lisboa, e escreve sobre gastronomia e vinhos para várias publicações portuguesas e internacionais. É membro de diversos concursos de vinhos e azeites e dá aulas no Mestrado de Ciências Gastronômicas da FRCT/ISA. Também é membro ativo do movimento Slow Food em Portugal e da Confraria dos Enófilos e Gastrônomos de Trás-os-Montes e Alto Douro. Tiago Pereira é realizador, documentarista, mentor e coordenador do projeto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, vencedor do Prêmio Megafone 2010. Tem desenvolvido um trabalho de registro de manifestações da cultura imaterial (como música, rituais, performances, receitas), buscando novas abordagens à cultura popular e ao tradicional. Sílvia Canas da Costa é filha do proprietário da Quinta da Lapa, José Costa, que adquiriu a vinícola de quase 300 anos em 1989. A gestora tem sido responsável pela produção de vinhos premiados e situados entre os melhores de Portugal.
Na mesma noite de sábado, serão oferecidas também para degustação variedades de queijos de cabra produzidos pela fazenda Recanto das Águas (a 100 km de Brasília), de propriedade do jornalista e produtor Armando Rollemberg. No local, Armando produz quatro tipos de queijos de leite de cabra, identificados pela grife Cabra Chic: montanhês, frescal, meia cura e boursin. O jornalista-produtor estará presente ao Festival e apresentará seu trabalho. Exemplares dos produtos poderão ser adquiridos.
EXPOSIÇÃO
Sob a curadoria de Sérgio Moriconi, estarão expostas, no hall do Cine Pireneus, 22 capas de discos de vinil como parte da exposição Natureza Móvel. Nas imagens, um percurso da relação do homem com a natureza, segundo explica o curador: “É uma construção por espelho: à primeira imagem de uma flor sob o azul celeste do céu, seguimos até a imagem derradeira da flor encapsulada um ambiente asséptico e sem vida; ao voo livre dos pássaros (segunda imagem) se contrapõe uma vassoura ante um ambiente vegetal (penúltima imagem) denunciando a presença do homem; à faina dos agricultores sobre a pilha de feno, se opõe a sinistra figura (a morte?) do indivíduo com a foice no trigal. Entre essas três dicotomias mencionadas, a faina do homem, a domesticação da natureza, os enlatados, as ilustrações da banana e da Coca-Cola de Andy Warhol (a natureza como metáfora pop) – simbolizando, no contexto da exposição, o descolamento do homem da natureza. Por fim, os efeitos perversos da industrialização, antecipados, em contraponto, com as representações dos enlatados”. Para Moriconi, Natureza Móvel é outra forma de expressar um dos conceitos que norteiam o SLOW FILME e também outro modo de perceber “a música” que embala a nossa contemporaneidade.