Editado em 09/01/2018
A história da colonização e fundação da cidade de Pirenópolis sempre esteve ligada às riquezas minerais por aqui encontradas, sobretudo o ouro.
Algum tempo depois outro metal começou a fazer parte da economia da cidade: a prata.
O uso da prata, enquanto matéria-prima, iniciou-se com a chegada do movimento hippie na década de 1980.
Esse foi um marco importante na história da cidade. Edson Paranhos, natural de Taubaté, São Paulo, morou 12 anos no exterior.
“Cheguei a Pirenópolis no final de década de 1970, focando na ideia de formar uma comunidade alternativa”.Segundo ele “éramos hippies e viajávamos para todo lado.
Eu aprendi a trabalhar com prata no Senegal, um lugar perto de Dakar e Dali.
Acabei me apaixonando e montei uma pequena oficina. Era móvel, bem compacta.
Quando voltei ao Brasil para montar a comunidade, resolvi trazer a oficina para Piri em um lugar que se chama chácara Mar e Guerra, na entrada da cidade.
Comecei lá. Montamos a primeira oficina de prata, dentro de um antigo galinheiro. E o tempo foi passando e as crianças começaram a nascer.
Adquirimos uma fazenda de mais de 100 alqueires.Começamos então uma ‘comunidade alternativa’, trabalhando com prata”, relembra Paranhos.
Segundo ele, deu-se início a uma preparação de outros artesãos e interessados no trabalho com prata.
Eram artesãos e artistas lançando uma linha de joias simples, sem pedra, o básico. Como o próprio afirma: “era tudo chapa de prata.
Para dar efeitos, pegava pedra de Pirenópolis e batia com martelo encima da chapa de prata.
Ela ficava toda arranhada e marcada, e a gente tinha um processo de envelhecimento, não precisava de técnica nenhuma,
era um início, então o pessoal começou a aprender”, acredita ele.
Por esse motivo, acrescenta: “na cidade de Pirenópolis, na época, não tinha condições de comércio.
Saímos para vender e Brasília era o lugar mais apropriado.
Tinha acesso à Feira da Torre, no Senado, na Câmara, nas autarquias, nos ministérios.
Não tinha ninguém que trabalhava a prata em Brasília; só havia alpaca, o latão.
Passei a participar de todas as feiras famosas, no Rio Grande do Sul,
em Ipanema, na Praça da República, em São Paulo e na praia de Boa Viagem, em Recife.
Onde chegavam com as pratas as pessoas adoravam, e era mais caro, é até bíblico. O lucro da prata era significativo.
A matéria-prima não é tão cara e o valor é muito grande por ser um metal precioso”, esclarece o comerciante.
Retomando ainda o diálogo com o nosso entrevistado, onde, segundo ele, por falta de eletricidade na terra
(naquela fazenda de 100 alqueires adquirida), passamos a oficina para a cidade (Pirenópolis).
O local foi uma casa na Rua Nova. Ali foi a oficina de prata, chamada de Terra Nostra.
Na Terra Nostra cada um montou o ateliê individual ou fez associações, e começou a se formar
o ateliê escola, com jovens de Pirenópolis. No local havia vinte mesas.
Todos eram responsáveis, a cada dia, pelas tarefas e atribuições dos dias seguintes da escola.
Para inovar as oficinas em Pirenópolis, Paranhos viajava pelo mundo, e descobria o desenho dos lugares,
nas feiras e em outros espaços da arte, e trazia as novas descobertas para serem repassadas aos aprendizes.
Segundo seu depoimento, “com o tempo aconteceram duas coisas: tinha o pessoal que tinha talento,
que fazia a peça do início ao fim, e os que não tinham, que participaram de etapas específicas.
A gente começava a ideia e deixava o artesão livre. Os que tinham talento foram trazendo peças com um novo foco,
uma nova etapa no design, completamente diferente de tudo que tinha antes.
No início houve várias misturas de novas técnicas e desenhos.
Os aprendizes captaram isso e a joia produzida em Pirenópolis passou a ter uma identidade.”
Com o tempo, segundo Paranhos, as peças se tornaram maravilhosas, e o negócio cresceu demais.
O pessoal tinha de 15 a 17 anos. Sem apoio para se estabelecer no local, acabou tendo problemas trabalhistas,
tomando outras dimensões. Ninguém queria mais assumir a responsabilidade ou estabelecer outras liberações individuais.
Por estes impasses, resolveram, então, ceder concessões e instrumentos aos novos artesãos,
passando e vê-los como uma institucionalização individualizada no comércio com a prata.
Na Terra Nostra, os conflitos de interesses, e de ideias diferentes, foram tirando a essência tribal.
A comunidade se dividiu, e a Terra Nostra tornou-se um condomínio.
Todos, os aprendizes mais antigos e os novatos , receberam uma porcentagem no trabalho efetivado.
As divisões generalizadas, no âmbito das joias, passaram a negar a transferência de conhecimento e tornou-se uma competição grande.
A prata trabalhada em Pirenópolis espalhou-se por todo o país, tomando dimensões internacionais.
Comprovaram-se focos de prata no México, no Arizona (EUA), e em tantos outros países latinos e europeus.
Os tempos mudaram, e Edson teve experiências vivas, e os direitos trabalhistas encareceram muito a joia de prata.
Em 30 anos mudou tudo no Brasil: diminuíram mão de obra e encolheram a produção de pedra, sem deixar a qualidade da prata e da pedra.
A paixão pelas pedras e o valor lucrativo das peças foram responsáveis pelo crescimento do movimento de valorização do artista e artesão e pelos primeiros questionamentos de qual deveria ser a cara da joia pirenopolina.
Atualmente Edson Paranhos e sua esposa, Lucilene Paranhos, têm duas lojas em Pirenópolis,
sendo que parte da loja com metade de produção local, e outra metade com mercadorias de fora, mais comercial,
que é indispensável, e é tendência mundial.
Joias em prata 950, com pedras de boa qualidade, geram admiração pelos estrangeiros, pelo valor e beleza.
Edson acredita que houve dois tempos: antes era o desenho, a criatividade e o tempo.
Hoje é mais comercial, mas não deixou de ser criativa e mais acessível. As pedras encareceram muito.
Por: Tatiane Di Passos - Revista Viu Magazine