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Entrevista com Nasr Chaul (presidente da Agência Goiana de Cultura)

04/10/2006

O presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira Nasr Chaul ressalta que o objetivo do evento, montado com recursos do erário público, não é incrementar a economia da iniciativa privada e sim fomentar a cultura no estado. Nesta entrevista exclusiva ao "Portal Pirenópolis", Chaul remonta a origem do festival de música e fala sobre outras atividades culturais desenvolvidas em Goiás

Quais as expectativas em relação ao Canto da Primavera?
Tem sido as melhores possíveis. Este ano, por questões de finanças do Estado, da própria legislação eleitoral, nós voltamos para o formato inicial de seis dias, mas primamos sempre pela qualidade. Talvez não exista nenhum evento no Brasil que tenha a qualidade das oficinas que nós oferecemos aqui, durante esta semana em Pirenópolis.

A verba foi menor este ano?
Sim. O orçamento liberado foi apenas 40% do que tivemos em 2005, R$ 950 mil, para pagar quatro shows nacionais, sete oficinas e mais de 200 músicos. Além de transporte aéreo, terrestre e hospedagem. Em torno de 27% disso são gastos em manutenções várias, equipes externas, uma variedade de atividades que envolvem um projeto deste porte. Montamos quatro shows nacionais, mantendo a nossa dinâmica de privilegiar os estilos possíveis. Além das oficinas, uma idéia de socialização de conhecimentos, que a gente sempre teve, desde o primeiro Canto da Primavera, para trazer perspectiva de integração de músicos nacionais de grande renome.

Como o evento é visto no país?
O Canto da Primavera é prestigiado em todo o cenário nacional. A programação contempla todos os gostos musicais. Os shows e oficinas são aulas de aprendizado prático para os alunos e professores. Os alunos fazem oficinas e aprendem um instrumento. É um evento que dignifica muito Goiás e que dá aos músicos uma chance para mostrar o seu trabalho para quem vem de fora. Ao mesmo tempo, cumpre uma função muito boa no estado de Goiás e no Brasil.

Mas o ápice do evento é o último dia?
Ápice acaba sendo a grande confraternização, geralmente o show de encerramento. A derivação da palavra também dá a idéia de festa. O Canto da Primavera é quase mágico. Você tem média de 25 mil pessoas por dia sem divulgação na mídia, a não ser a espontânea e a boca-a-boca. É um evento que já se consolidou. Acho que também entrou para o calendário das atividades culturais fundamentais para a cidade de Pirenópolis, que tem a Festa do Divino, as Cavalhadas, o Festival Gastronômico...

O Canto da Primavera atrai um tipo de público que o Festival Gastronômico não atrai. Há alguma preocupação durante o evento quanto à preservação do patrimônio histórico?
São eventos totalmente distintos. O Festival Gastronômico tem um público mais elitizado, envolve os restaurantes diretamente. O Canto da Primavera é para o povo, nada é cobrado, tudo é gratuito. A conseqüência econômica é pouca, mas nós não fazemos uma mostra nacional de música pensando neste objetivo. É impossível 25 mil pessoas por dia numa cidade como Pirenópolis não contemplar satisfatoriamente bares e restaurantes. Se cada uma dessas pessoas consumir uma garrafa de água por dia já é bom financeiramente.

Como é a satisfação do público que participa do evento?
Nós fizemos ano passado uma pesquisa junto com a Agência de Turismo (Agetur). O resultado foi que 90% dos participantes do Canto da Primavera ficaram satisfeitos. A nossa preocupação é só cultural. Também nos importamos muito com o meio-ambiente; o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é consultado antes da montagem dos palcos. Ano que vem, se o governo quiser aproveitar o espaço do Cavalhódromo, que deve ser inaugurado em dezembro, poderá faze-lo, mas eu acho que a beleza estética do Canto está nos quatro palcos.

Uma das reclamações do vilaboense durante o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) é que ele fica à parte do festival. Acontece isso também com o pirenepolino?
Na segunda edição do Fica, e na primeira do Canto da Primavera, que foram tão importantes, nós tivemos todos os trabalhos voltados para a comunidade. No primeiro Fica não foi possível porque nós tivemos que fazê-lo em poucos meses, mas a partir do segundo já envolvemos toda a comunidade. Todos os anos a gente vai a Goiás, vem a Pirenópolis com muita antecedência, faz reuniões com o Corpo de Bombeiros, as Polícias Militar e Civil, Prefeitura, representantes dos restaurantes, pousadas, com as pessoas que têm laços com a comunidade cultural da cidade. Fazemos quantas reuniões forem necessárias, estabelecemos critérios, ouvimos opiniões, envolvemos a cidade. Eles estão tão intrinsecamente inseridos na realidade cultural destas cidades que eu arriscaria dizer que o governo que tentar retirar vai dar uma comoção social muito grande, tanto na Vila Boa quanto em Pirenópolis. São conquistas sociais.

O senhor acredita que uma eventual mudança de governo acabaria com estes eventos?
Não, eu não acredito. O nível de insatisfação é infinitamente menor que o de satisfação. A cidade de Pirenópolis é toda envolvida, adora o evento, é quase impossível você separar Goiás do Fica e o Fica de Goiás. Eu acho que a mesma coisa acontece aqui em Pirenópolis e com a mostra de teatro em Porangatu. Nós já tivemos reclamações de um ou outro setor hoteleiro ou de restaurante, que gostaria de ver o Canto da Primavera com um público mais elitista. Nós não estamos preocupados com isso, não estamos fazendo festival para agradar o dono do bar ou o dono do restaurante. Nós estamos fazendo um festival para dinamizar a vida cultural de um estado, de uma cidade, que tem na música, como Pirenópolis, uma tradição que vem dos séculos XVIII e XIX. Eu não estou preocupado se o festival, que é feito com dinheiro público, vai dar lucro particular.

Houve a tentativa de popularizar ainda mais o evento?
Todos os anos nós temos todos os tipos de show. Em todos os Cantos da Primavera nós passamos por todos os estilos musicais: clássico, MPB, hip hop, rap, tradicional, catira, congada e temos também música caipira de raiz. É variado, tem para todos os gostos. É interessante que tudo o que a gente faz em todos os anos é lotado.

Por fim, na sua opinião, o que o Canto da Primavera deixa de mais importante para Pirenópolis?
Deixa uma marca que toda cidade nos solicita, o que é difícil de atender, que é uma marca de realização em nível nacional de um determinado tipo de gênero cultural. No caso de Pirenópolis, a música. Em Goiás, o cinema. E em Porangatu, o teatro. Como em Goiânia, a Bienal do Livro e a mostra de dança. Cada município é louco para ter uma atividade que a direcione nacionalmente. Para Pirenópolis trouxe mais ainda o fluxo turístico, visitação ambiental e arquitetônica e, fundamentalmente, resgatou o que de Pirenópolis teve de mais considerável culturalmente, que á música. Esta cidade é um berço cultural desde o século XIX, com a Ópera dos Barracões, Braz Pompeo de Pina, a Banda Phênix, que é centenária. Então, quer dizer que o Canto da Primavera veio dimensionar positivamente a música feita, dimensionada e positivada espalhada por Pirenópolis. E colocou Goiás no cenário nacional de uma forma extremamente positiva, atraindo as atenções e o fluxo turístico para cá, ao mesmo tempo que dimensionou econômico, financeiro e culturalmente a cidade. Tem deixado um legado muito grande. Historicamente ainda é diminuto o que pode vir por aí.